Henrique Meirelles é um ministro pré-candidato. Isto o torna uma personagem inusitada nesta conjuntura de economia em recuperação, mas ainda sem sinais tão evidentes na vida real das pessoas e de indefinição do candidato do Governo à Presidência. Isto explica porque ao tempo em que tem uma coleção de estatísticas positivas, ainda não consegue ser percebido como uma referência popular. E foi em busca do cearense real e da construção do próprio nome que Meirelles saiu da Beira-Mar de Fortaleza, seguiu pela avenida da Abolição, alcançou a Leste-Oeste e aportou no Templo Central da Assembleia de Deus, no Centro, para ter com pastores e fiéis. A entrevista abaixo, exclusiva para O POVO, foi numa suíte do 15° andar do Hotel Gran Marquise, na noite de sexta, após falar para uma plateia de empresários e executivos convidados do Lide-CE. Defendeu a autonomia do Banco Central como uma forma de se ter maior controle sobre a inflação, gerando mais credibilidade para o mercado. Segundo Meirelles, o maior legado de seu ministério foi tirar o Brasil da “maior crise da história” e diz que a expectativa para este ano é crescer 3% e criar 2,5 milhões de empregos.
O POVO – Em 2018 nós vamos ter algum aumento de impostos?
Henrique Meirelles – Não. Não temos nenhum plano e a nossa decisão é não aumentar impostos este ano. Não será feito, não há essa decisão, não há estudos a esse respeito. Não haverá aumento de imposto.
OP – O senhor tem dito que está ainda decidindo se vai ser candidato à presidência da República. O senhor está sofrendo algum tipo de dificuldade para ser candidato dentro do seu partido? Tem conversado com outros partidos para viabilizar uma candidatura em outro lugar?
Meirelles – Não, não há dificuldades. O que é necessário é que eu decida se eu sou candidato ou não, em primeiro lugar. Em decidindo, aí sim eu vou ter uma conversa decisiva com o PSD (Partido Social Democrata). Tenho tido boas conversas com o Gilberto Kassab, que é o presidente do partido. Agora temos que tomar uma decisão. Em primeiro lugar se eu sou candidato. Se for, se a ideia é eu ser candidato pelo PSD ou liberar o PSD em função de projetos em São Paulo. Tem vários convites. Vamos aguardar, mas evidentemente eu tenho antes que decidir se sou candidato.
OP – Em que medida a autonomia do Banco Central para o senhor é uma prioridade para o País hoje?
Meirelles – É muito importante porque o Banco Central autônomo vai ter uma maior capacidade de controlar a inflação com juros mais baixos, porque tem com isso maior credibilidade no mercado, maior previsibilidade e, portanto, não existe incerteza.
OP – Se bem que no Brasil é inusitado. O presidente Lula o convidou para presidir o Banco Central…
Meirelles – É lógico. Isso foi algo muito importante na época. Agora, eu vou dar um exemplo: uma vez estava participando de uma reunião com sobre grandes questões internacionais no exterior. Eles estavam falando muito sobre riscos, riscos eleitorais, de mudança, de países. E naquele ano ia haver uma eleição muito importante no México. E tinha um candidato que estava liderando as pesquisas naquele momento e que estava propondo, inclusive, intervir no Banco Central e baixar artificialmente juros, o que ia levar a certo descontrole. E os investidores, entre as preocupações, não falavam no México. Então falei: “Escuta, eu estou estranhando, tem aqui o candidato etc, que está propondo etc isso e aquilo”. Disseram: “Não, não se preocupa, porque o Banco Central do México é independente e o presidente do Banco Central ainda tem vários anos de mandato. Então, de qualquer maneira garante a continuidade”. Então, isto é o tipo de coisa importante, porque aí a eleição presidencial não altera o mercado do ponto de vista de inflação, de juros.
OP – O senhor falou durante a palestra no Lide sobre a questão da simplificação tributária. A gente sabe que hoje o País vive também a carga tributária excessiva. O que o senhor pode nos adiantar sobre essa simplificação tributária que o senhor mencionou durante a reunião?
Meirelles – Vamos simplificar muito criando um sistema onde exista um número menor de pontos de pagamento de impostos na cadeia produtiva e gerando créditos que compensem isso. Também estamos discutindo com os secretários da Fazenda estaduais a questão da simplificação do ICMS e para isso precisamos, de fato, chegar a um acordo entre os governadores, trabalhando essa linha.
OP – Sendo a Reforma da Previdência uma medida que tem se mostrado impopular, o senhor acredita que ela pode ser muito desgastante para sua possível candidatura? E ela ficando para 2019, com o senhor eleito, como o senhor procederia?
Meirelles – Em primeiro lugar, o apoio à Reforma da Previdência na população está aumentando muito. No primeiro momento de fato era impopular, era aprovados com uma percentagem pequena da população, 15% ou algo assim logo no início. Hoje, mais de 40% da população já apoia a Reforma da Previdência, com toda a campanha de esclarecimento feita pelo Governo. A questão das injustiças, etc.
OP – Essa pesquisa o Governo encomendou?
Meirelles – O Governo encomendou e isso já está claro. Então, eu acho que deixa de ser um problema eleitoral a Reforma da Previdência, o que inclusive viabiliza muito a aprovação da própria Reforma na Câmara dos Deputados. Mas vamos em frente, vamos aguardar o momento adequado e decidir isso. Claramente, se não for feito em 2018, o próximo presidente da República terá que fazer. Não há dúvida que se, porventura, decidir ser candidato e, porventura, ganhar não tem dúvida de que seria uma prioridade absoluta, caso não tenha sido aprovada esse ano.
OP – O Governo ainda espera aprovar esse ano a Reforma?
Meirelles – Está difícil agora por causa da intervenção federal no Rio de Janeiro. É mais provável próximo ano mesmo.
OP – Na hipótese do senhor deixar o ministério agora em abril, o senhor já chegou a declarar que considerava sua missão cumprida à frente do Ministério da Fazenda. Qual a leitura da sua gestão até agora?
Meirelles – Em primeiro lugar, o mais importante é que nós tiramos o Brasil da maior crise da história. O Brasil teve uma queda de produto de 8%, o maior desemprego da história e agora já está crescendo forte. Deve crescer 3% esse ano, cresceu já o ano passado e esperamos criar 2,5 milhões de empregos. Então, essa é a conquista mais concreta da gestão. Em segundo lugar, as reformas que já foram feitas. O teto de gastos, a Reforma Trabalhista, que tivemos uma participação juntamente com o Ministério do Trabalho, com a proposta do ministro do Trabalho, nós participamos ativamente dos debates, das discussões. E todas as outras propostas que já foram aprovadas de modernização da economia brasileira. A criação da TLP, que é a Taxa de Longo Prazo. Agora a apresentação do crédito rotativo e toda série de projetos. Existe inclusive essa lista de prioridades que mostra aqueles projetos ainda em andamento. Então, existe toda uma modernização da economia brasileira. Não só a parte fiscal, que é muito importante, mas também no funcionamento da economia. Todos esses projetos, essas reformas que nós chamamos as reformas de produtividade, que estão em andamento, algumas delas já feitas. O cadastro positivo já foi aprovado no Senado, a duplicata eletrônica já foi aprovada e sancionada. Tem uma série enorme de medidas que mostra a profunda transformação para melhor, do Brasil e da economia, e que é resultado do trabalho desse período.
OP – Quem é candidato a presidente e conversa com o público do Nordeste precisa dizer o que pensa de política de desenvolvimento regional. Como o senhor lê a questão regional e qual o papel dos bancos públicos nessa questão? Falo de BNB, cuja sede é aqui.
Meirelles – A questão regional, evidentemente, é uma prioridade. Não há dúvida de que, em primeiro lugar, é importante que o Brasil esteja crescendo para permitir que o Nordeste cresça. No momento que o Nordeste cresce, ele tende inclusive a crescer mais que o Brasil. E se vai caber políticas específicas, de incentivo específico, por exemplo, para aquelas indústrias ou produção agrícola que o Nordeste tenha uma vantagem competitiva. Onde o Ceará tem vantagem, produz com melhor qualidade e custo de transporte mais barato. Em resumo, incentivar tudo isso, além de indústrias também visando criar mais emprego. Em termos de política social, claramente o Bolsa Família, por exemplo, beneficia prioritariamente o Nordeste.
FONTE: https://www.opovo.com.br/jornal/economia/2018/02/nos-tiramos-o-brasil-da-maior-crise-da-historia-afirma-meirelles.html